O álcool em gel que você conhece vai mudar

Não se surpreenda se nas próximas semanas você notar mudanças no álcool em gel antisséptico. Devido ao grande consumo do produto nos últimos meses no Brasil, o item sofrerá alterações na sua formulação, o que o deixará mais líquido e menos transparente. A mudança é ocasionada, principalmente, pela ausência do carbopol, substância emulsificante e que garante a viscosidade do álcool em gel.

Produzido em massa em países da Ásia e da Europa, o carbopol tem sido usado em larga escala na produção de álcool em gel de todo o mundo por conta da pandemia do Covid-19. Como também enfrentam problemas com a alta demanda pelo álcool em gel, os países fabricantes do produto tem priorizado o abastecimento em seus locais de origem, inviabilizando a exportação para o Brasil e outros países.

O que fazer, então, para suprir a grande demanda de álcool em gel dentro do Brasil? Uma das principais alternativas é o uso do copolímero de acrilato para dar essa viscosidade do álcool antisséptico. Mas isso trará também mudanças na forma do produto como estamos acostumados a encontrar nas prateleiras.

Um novo álcool antisséptico

O copolímero de acrilato é um composto que já é produzido e usado no Brasil com o objetivo de dar mais viscosidade a produtos da indústria de cosméticos, substituindo o carbopol. Porém, ele possui um custo mais caro em sua produção e é necessária uma maior quantidade para criar o álcool antisséptico. Por outro lado, ele tem a vantagem de possuir uma produção mais rápida, o que é muito positivo em tempos como o atual, onde a demanda é muito grande.

Mas como esse produto vai mudar a forma do álcool em gel? O copolímero de acrilato não consegue dar o mesmo aspecto translúcido ao produto, como o carbopol é capaz. Assim, o álcool antisséptico fica com uma aparência levemente opaca. Em contrapartida, ele consegue reter o álcool por mais tempo na pele.

“Outra mudança em relação ao álcool produzido com o carbopol é que ele fica com uma textura mais líquida. Isso porque com o carbopol o produto atinge uma viscosidade maior, mas isso não é nenhum obstáculo para a ação do álcool antisséptico”, explica a química Flávia Peres Miguel, que atua há mais de 20 anos na indústria de cosméticos.

Ela lembra que já existem shampoos e sabonetes produzidos no Brasil com o copolímero de acrilato. “Geralmente em linhas mais requintadas, para tratamento corporal ou capilar”, diz. O produto também é bactericida e possui laudo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Outras soluções

Outra opção para substituir o carbopol pode estar em uma antiga cartilha da Organização Mundial de Saúde (OMS). Traduzida por um grupo de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), o documento sugere o uso de outras matérias-primas para a produção do álcool antisséptico.

E a Anvisa já está de olho nesse material e deve adaptar a guia da OMS muito em breve. A diretoria da Vigilância Sanitária solicitou estudos internos sobre o tema e vai rever essa orientação de produção.

De acordo com o site Huff Post, a nova fórmula trata-se de uma combinação de álcool 70% (capaz de matar micro-organismos), com glicerol (para manter a hidratação) e o peróxido de hidrogênio (que inativa esporos de bactérias, que apenas o álcool 70% não consegue).

Afinal, o que é o carbopol?

Falamos bastante sobre o carbopol durante todo o artigo. Para quem ainda não conhece, carbopol é o nome comercial para um tipo de carbômero, da família de polímeros hidrossolúveis, que é usado para emulsificar e dar viscosidade a soluções. Assim, ele é muito usado na indústria de cosméticos para fabricação de produtos em gel. Ele também é útil para a formulação de produtos de limpeza, em fórmulas farmacêuticas, bem como em formulações automotivas.

Assim, ele é usado na produção de itens , como:

  • Cosméticos: gel para cabelo, gel pós-barba, loções corporais, gel hidratante, gel para massagens, etc.
  • Produtos de limpeza: álcool em gel, cloro em gel, etc.
  • Fórmulas automotivas: gel de silicone para pneus, aromatizante em gel automotivo, etc.

O grande problema do carbopol é que sua fonte vem principalmente de países europeus e asiáticos. Com a demanda grande em seus países, o Brasil precisou olhar para outros produtos que tenham a mesma ação que ele. Para se ter uma ideia, a previsão era que uma nova leva do composto só chegaria ao país entre agosto e setembro.

Resta saber se o produto vai conseguir retomar o seu mercado no país com o fim dessa crise ou os brasileiros vão ter que se acostumar com um novo tipo de álcool antisséptico.